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Questões Cesgranrio comentadas

em 22/03/2012

Saudações, leitores!

            Eu não ando tão presente no blog quanto gostaria porque o tempo está corridíssimo. Apesar disso, estou aqui para comentar as últimas questões da Cesgranrio antes da prova do Banco do Brasil, que acontecerá no próximo domingo.

            Escolhi hoje questões da última prova da Petrobrás, de 2012 (cargo de nível superior, com formação em Administração).

            Aqui estão:

Questão 01: O trecho “Pensa-se logo num palhaço” (l. 38-39) pode ser reescrito, respeitando a transitividade do verbo e mantendo o sentido, assim:

(A) O palhaço pode ser logo pensado.

(B) Pensam logo num palhaço.


(C) Pode-se pensar num palhaço.


(D) Pensam-se logo num palhaço.

(E) O palhaço é logo pensado.

RESPOSTA:

            O próprio enunciado da questão já dá a dica: para resolvê-la, o candidato tem que verificar a transitividade verbal. Quem se lembrou de que somente VTD e VTDI aceitam voz passiva elevou muito as chances de marcar a alternativa correta.

            O verbo “pensar” foi, aqui, usado como VTI. Sendo assim, aquele “se” que o acompanha não pode ser considerado partícula apassivadora. Conclui-se, então, que a frase não está na voz passiva sintética e que não pode ser convertida para a voz passiva analítica.

            A voz do verbo, no trecho do enunciado, é ativa. O “se” que o acompanha tem a função de mostrar que não se sabe ou não há interesse em dizer quem é o sujeito. Logo, o “se” é um índice de indeterminação do sujeito.

            Sabendo que verbos que não sejam VTD ou VTDI não aceitam a voz passiva, podemos eliminar as alternativas A e E.

            Outro detalhe: quando um verbo é acompanhado de “se” com a função de IIS, ele deve ficar na 3a pessoa do singular. Logo, podemos eliminar a alternativa D.

            Ficamos entre B e C.  A alternativa C apresenta uma frase correta, com “se” exercendo a função de IIS. Todavia, o sentido dela é diferente do sentido apresentado pelo trecho do enunciado. Neste, não há ideia de possibilidade. Naquele, sim.

            A resposta, então, é a letra B. Além do uso do “se” – IIS, há outra forma de indeterminar o sujeito: utilizando-se o verbo na 3a pessoa do plural sem que haja referência anterior ao sujeito dele. Logo, o sentido de “pensa-se logo num palhaço” é o mesmo de “pensam logo num palhaço”.

RESPOSTA: letra B.

 

Questão 02: A expressão em que a retirada do sinal indicativo de crase altera o sentido da sentença é

(A) Chegou à noite.


(B) Devolveu o livro à Maria.


(C) Dei o presente à sua irmã.


(D) O menino foi até à porta do circo.

(E) O circo voltou à minha cidade.

RESPOSTA:

Nem sempre a  retirada do acento grave indicativo de crase acarretará erro. Quando a crase for facultativa, sua retirada em nada alterará a sentença; se ela for obrigatória, sua omissão implicará erro; caso ela seja proibida, não deve aparecer de jeito nenhum.

Em algumas situações, porém, a opção pelo uso do sinal indicativo de crase depende do sentido que se deseja dar à frase.

Na questão analisada, temos as seguintes situações:

Letra B – crase facultativa: o uso da crase antes de nome próprio feminino obedece às seguintes regras:

1. Nome próprio completo: crase proibida, pois o uso da crase indica que há, além da preposição, o artigo “a”. A colocação de artigo antes de um nome próprio denota um contexto de intimidade, enquanto o uso do nome próprio completo indica que há formalidade. Logo, a convivência entre artigo e nome completo é algo incoerente.

2. Nome próprio – uso do primeiro nome + determinante que indique proximidade: crase obrigatória. Se houver alguma expressão que denote intimidade, o artigo deverá ser usado antes do nome. Se o nome for feminino e precedido, também, da preposição A,  ocorrerá crase. Se tivéssemos, então, a sentença “dei um presente à Ana, minha amiga”, a crase seria obrigatória.

3. Nome próprio – uso somente do primeiro nome, sem determinante que indique intimidade: crase facultativa. Como não há contexto que indique intimidade e nem que indique formalidade, a colocação da crase passa a ser uma opção de quem escreve.

Letras C e E – crase facultativa.

            O uso de artigo antes de pronomes possessivos é facultativo. Logo, posso dizer tanto “este é o meu livro” quanto “este é meu livro”.  Quando temos um pronome possessivo feminino singular precedido da preposição “a”, deparamos com a seguinte situação: não é possível afirmar com certeza se, além da preposição, há também um artigo ali. Vejamos:

Dirigiu-se a minha bicicleta.

            Havendo ou não artigo nessa frase, o “a” ficará no singular, pois artigos concordam com o termo a que se referem.  Se a crase acontecer, é sinal de que o artigo está lá; se não for, só há preposição. Usar ou não o acento grave, nesse caso, é opção de quem escreve.

            Se, todavia, estivéssemos diante do seguinte enunciados, a situação seria outra:

Referiu-se às minhas palavras.

            Aqui, temos um pronome possessivo feminino plural precedido por “as”, também no plural. Como a preposição é uma palavra invariável, sabemos que o termo que foi para o plural, acima, é um artigo. Logo, ÀS é a soma de A (prep.) + A (art.). Assim, havendo exigência de preposição, se tivermos AS + pronome possessivo feminino no plural, a crase será obrigatória.

            Pelo contrário, se a frase fosse escrita como abaixo, o que ocorreria?

Referiu-se a minhas palavras.

            A ausência de concordância entre o “a” e o “minhas”, acima, indica que não há artigo para se fundir com a preposição, de modo que a crase não pode acontecer. Conclusão: quando há exigência de preposição, se houver um A (singular) que anteceda pronome possessivo feminino no plural, a crase será proibida.

OBSERVAÇÃO: se houver palavra subentendida, a crase antes de pronome possessivo feminino singular será obrigatório. Exemplo:

Referiu-se às minhas palavras, não às suas. (O vocábulo “palavras” está subentendido aí, depois de suas. Logo, a crase é obrigatória).

Letra D – crase facultativa.

            A regra geral enuncia que não pode haver crase depois de preposição. Temos, todavia, uma exceção: após a preposição “até” a ocorrência de crase é facultativa, pois, nesse caso, o uso da preposição “a” é facultativo! Observem:

Fui até o parque.

Fui até ao parque.      

            Ambas as frases acima estão corretas. Na primeira, optou-se por não usar a preposição “a”. Na segunda, ela foi usada. Quando a palavra é feminina, a opção pelo uso da preposição “a” acarreta sua fusão com o artigo “a”, o que implica a existência do sinal indicativo de crase.

O menino foi até a porta do circo – somente artigo

O menino foi até a+a porta do circo – preposição + artigo = O menino foi até à porta do circo.

Letra A – pode-se usar ou não a crase, mas a opção por usar ou não acarreta variação brusca de sentido.

Chegou à noiteo termo em negrito é uma expressão adverbial feminina, por isso apresenta acento grave. O sujeito é desinencial, marcado pela terminação do verbo (3a pessoa do singular – ele/ela).

Chegou a noiteo termo em negrito é o sujeito da frase (quem chegou? A noite). Como é sujeito, não pode apresentar acento grave, pois o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado. Essa frase equivale a dizer “anoiteceu”.

Sendo assim, a alternativa em que a retirada do sinal indicativo de crase acarreta mudança de sentido é a letra A.

RESPOSTA: letra A.

            Espero que essas últimas dicas voltadas para a prova do Banco do Brasil tenham sido úteis!

            Boa sorte a todos que vão se submeter ao concurso!

            Abraços!


4 respostas para “Questões Cesgranrio comentadas

  1. Emanuela disse:

    Na frase: “Pensa-se logo num palhaço”
    “num palhaço” tem qual função?

  2. Emanuela disse:

    Adj, adv.?! Caso positivo, de que seria?!
    Enviar-me email, por favor, se possível.

  3. Maria Teógenes disse:

    Função sintática é: objeto indireto.

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