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Crase

em 03/06/2012

Olá, pessoal! Tudo bem?

Hoje trago a vocês um post gigante e completo sobre o uso da crase!

Divirtam-se!

 

CRASE

 

O uso do sinal indicativo de ocorrência da crase parece ser mais complicado do que é. O importante, para evitar confusões, é tentar entender porque aquele “acento agudo ao contrário”, cujo nome é acento grave, aparece sobre a vogal A.

 

Fundamentos

 

A crase é um fenômeno sintático que acarreta a fusão de duas vogais iguais que aparecem em sequência. Na Língua Portuguesa, tal fenômeno ocorre somente com a vogal A e é marcado pelo acento grave.

Haverá crase sempre que a preposição A fundir-se com o artigo A, o pronome demonstrativo A e o A inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela e aquilo. Esquematizando, temos:

 

A – preposição

+ A artigo

Enviou o presente à amiga.

+ A pronome demonstrativo

Referiu-se à que chegou (= àquela que chegou).

+ A inicial de pronome demonstrativo

Não fez alusão àquilo.

 

O ponto de partida para descobrir se deve ou não haver o sinal indicativo de crase em uma frase é verificar se um termo exige a preposição A e se outro admite a letra A artigo ou, ainda, se foi utilizado o A pronome demonstrativo (= aquela) ou algum pronome demonstrativo iniciado com a letra A. Seguem alguns exemplos:

 

Dizia tudo à amiga.

O verbo dizer, tal qual usado neste caso, é VTDI – tem um OD e um OI. Seu OI é introduzido pela preposição A, pois “quem diz, diz algo a alguém”. O termo que exerce a função de OD na frase é o substantivo feminino amiga. Como substantivo feminino que é, admite ser determinado pelo artigo definido A. Sendo assim, temos: Dizia tudo a (preposição) + a (artigo) amiga –> Dizia tudo à amiga.

 

Dizia tudo àquela amiga.

Esta situação é parecida com a anterior, mas agora a fusão acontece entre a preposição A, exigida pelo verbo, e o A inicial do pronome aquela. Dizia tudo a + aquela amiga –> Dizia tudo àquela amiga.

 

Dizia tudo à de verde.

Neste caso, temos a mesma preposição A que, agora, funde-se com o pronome demonstrativo A (a frase equivale a “dizia tudo àquela de verde”). Dizia tudo a (preposição) + a (pron. demonstrativo) de verde –> dizia tudo à de verde.

 

Concluímos que, excetuando-se as situações em que o acento grave é justificado pela tradição linguística (que serão oportunamente estudados), o sinal indicativo de crase acontecerá por causa da fusão da preposição A com  a letra A de outra natureza.

 

Casos proibidos

Vejamos as regras que proíbem o uso do sinal indicativo de crase:

 

A. Antes de palavras masculinas no geral.

Atenção para o destaque dado à expressão “no geral”.  Não ocorrerá crase antes de palavras masculinas porque estas não podem ser determinadas nem pelo artigo feminino A, nem pelo pronome demonstrativo A. Sendo assim, não teremos sinal grave em frases do tipo:

 

A presidente falou a respeito do novo Código Florestal.

Todos compareceram ao evento, como havia sido combinado.

 

Tenhamos cuidado em duas situações:

1. Quando a preposição A fundir-se com o A inicial de AQUELE, haverá crase (e ela estará na própria palavra masculina, o pronome demonstrativo).

Enviou os documentos àquele departamento.

2. Quando a expressão “moda de” estiver subentendida entre a letra A e um nome masculino, será preciso usar o acento grave, obrigatoriamente.

 

Aquele jovem intelectual escreve à Machado de Assis. (= à moda de Machado de Assis)

B. Antes de palavras, ainda que femininas, usadas em sentido genérico.

Trata-se, aqui, de uma questão de sentido da frase. Imaginemos, por exemplo, um evento voltado para crianças, ao qual elas sejam levadas pelos pais. Durante este evento, uma organizadora decide conversar com o público infantil do local, falando coisas que só interessam a ele. Poderíamos dizer:

 

A organizadora dirigiu-se a criança, não a adulto.

 

            Nessa frase, o termo criança (assim como adulto) foi tomado em sentido genérico. O que se quer dizer é que a organizadora falou ao público infantil, falou coisas do interesse de crianças, e não que ela conversou com uma criança específica. Como o substantivo criança foi usado no sentido genérico, ele não pode ser determinado pelo artigo feminino A e, consequentemente, não haverá nada com que a preposição A possa se fundir antes dele.

Diferente seria o caso de uma funcionária do evento aproximar-se de um menino e de seu pai e, falando ao menino, perguntasse se ele queria um brinquedo. Deveríamos escrever:

 

A funcionária dirigiu-se à criança, não ao adulto.

 

            Como se trata de uma criança específica, o substantivo a ela referente deverá ser precedido do artigo definido A, o qual se fundirá com a preposição A, exigida pelo verbo dirigir-se. Note-se que o mesmo acontece com o termo adulto, que, por ser masculino, é determinado pelo artigo masculino O, que se une à preposição que o antecede, formando AO.

 

C. Antes de verbos

Verbos são palavras que não possuem gênero e, se efetivamente usados como verbos, não serão determinados por artigos ou pronomes demonstrativos. O que pode acontecer é a substantivação de um verbo, processo que o converterá em um substantivo. Quando isso ocorre, todavia, ele forma um substantivo masculino (exemplo do verbo andar utilizado como substantivo: o seu andar é muito elegante).

Preços a partir de R$ 100,00.

            Ela possui muitas qualidades, a saber: honestidade, competência e humildade.

 

D. Depois de preposição

EXCEÇÃO: preposição até (cf. “casos facultativos”).

A regra é que, no uso da Língua Portuguesa, não se usem duas preposições seguidas. Há, porém, algumas exceções, como é o caso de até, que pode ser seguida da preposição a, e das combinações por entre, de entre e para com.

 

Deverei comparecer perante a juíza. (esse A é somente o artigo, pois já temos a preposição perante, que não admite que se use a preposição A em sua sequência.)

 

E. Antes de artigos indefinidos

Os artigos indefinidos são um, uma, uns, umas. Se pensarmos bem, não faz mesmo sentido colocar o acento grave quando, depois dele, vier um artigo indefinido. Afinal de contas, é contraditório usar o artigo indefinido e o indefinido ao mesmo tempo. Para clarear, um exemplo:

A frase “enviou o recado à uma amiga” pode até parecer correta à primeira vista, mas desmembremo-la: enviou o recado a (preposição) + a (artigo definido) + uma (artigo indefinido) amiga. Não é possível determinarmos o mesmo substantivo, ao mesmo tempo, com um artigo definido e um indefinido, porque isso seria completamente incoerente.

Algumas frases corretamente construídas:

 

Referia-se a uma medida governamental qualquer.

            Contou a uma tia o que se passava com a mãe.

 

F. Antes de pronomes…

F.1. demonstrativos que não comecem com a letra A

Trata-se dos pronomes esse, essa, este, esta (e seus plurais) e isto.

 

Peça desculpas a essa moça, meu filho.

            Não sei se recorro àquele médico para uma segunda opinião ou se envio o resultado dos exames a este mesmo.

            Tenho certeza de que ele não se referia a isto quando nos fez aquela proposta.

 

F.2. Antes de pronomes indefinidos

São exemplos de pronomes indefinidos: qualquer, todo, toda, cada…

 

Ele tem bom coração. Certamente perdoará a qualquer devedor que tiver uma boa justificativa.

            Mande os meus convites a todas as minhas amigas!

 

F.3. Antes de pronomes pessoais

            Exemplos de pronomes pessoais: eu, tu, ele, nós, vós, eles, o, os, me, te, se, mim…

 

Indicou o corretor a ela.

            Envie sua mensagem a mim tão logo chegue em casa.

 

F.4. Antes de pronomes de tratamento

            Exemplo de pronomes de tratamento: você, Vossa Excelência, Sua Senhoria, Vossa Alteza…

 

            Não cabe a você tomar todas as decisões.

            Endereçarei esta carta a Sua Senhoria assim que terminar de escrevê-la.

 

ATENÇÃO: os pronomes de tratamento senhora e senhorita não entram nesta regra. Antes deles, ocorrerá crase caso seja exigido o uso da preposição A.

           

            Não cabe à senhora tomar todas as decisões.

            Endereçarei esta carta à senhorita assim que terminar de escrevê-la.

 

ATENÇÃO 2: o pronome de tratamento dona (feminino de dom) não pode ser precedido de artigo. Sendo assim, antes dele não ocorrerá crase. Se a palavra dona for usada no sentido de posse, poderá ser precedida de A craseado.

            Aplicaram uma multa a dona Maria porque o cachorro dela fez coco na calçada. (dona – pronome de tratamento.)

Aplicaram uma multa à dona do cachorro porque ele fez coco na calçada. (dona – posse.)

           

G. Antes de numerais cardinais, salvo se indicarem horas.

 

            O retorno fica a 200 metros.

            Minha casa fica a quinze minutos de caminhada daqui.

 

H. Em locução formada por palavras repetidas.

São exemplos deste tipo de locução: frente a frente, cara a cara, boca a boca, lado a lado, face a face, dia a dia…

 

O salva-vidas fez respiração boca a boca no rapaz que havia se afogado.

            Ficaram cara a cara, mas não disseram nada.

           

Casos facultativos

Diante de um caso facultativo, quem escreve pode optar por usar ou não o sinal indicativo de crase. Vamos entender porque isso acontece enquanto analisamos tais casos:

 

A. Antes de pronomes possessivos femininos, quando tanto o A quanto o pronome estiverem no singular.

            Antes de pronome possessivo, seja ele qual for, o uso do artigo é facultativo. Sendo assim, estão corretas todas as frases abaixo:

 

Aquela é minha mãe./Aquela é a minha mãe.

            Ele bateu em meu carro./Ele bateu no meu carro. (no = em + o)

O meu cachorro fugiu./Meu cachorro fugiu.

 

O fato de o artigo ser facultativo antes de pronomes demonstrativos somente afetará o uso da crase antes de pronomes possessivos femininos singulares, pois é somente antes deles que se pode escolher entre usar ou não o artigo A (antes dos demais escolhemos o, os, as). Logo, teríamos:

 

Referiu-se a meu irmão. (sem artigo)/Referiu-se ao meu irmão. (com artigo)

            Referiu-se a minha irmã. (sem artigo)/Referiu-se à minha irmã. (com artigo)

Todas as opções acima estão corretas. Comparando umas às outras, vemos que a preposição sempre está lá. O que pode ou não ser usado é o artigo.

 

Fique esperto!

  • Se houver palavra subentendida depois do pronome possessivo feminino singular, a crase será obrigatória.
    • Sua opinião é igual à minha (opinião). Crase obrigatória.
    • Ele não poupou críticas à/a minha opinião. Crase facultativa, pois não há palavra subentendida.
    • Se o A estiver no singular e o pronome possessivo feminino estiver no plural, a crase será proibida.
      • Não poupou críticas a minhas opiniões. Crase proibida, pois sabemos que, se o artigo estivesse ali, ele concordaria em número com o pronome a que se refere, de modo que teríamos às minhas, e não a minhas.
      • Se, em um caso semelhante ao de cima, o AS estiver também no plural, a crase será obrigatória.
        • Não poupou críticas às minhas opiniões. Crase obrigatória, pois como o AS encontra-se no plural, temos certeza de que trata-se da fusão da preposição A com o artigo AS, pois preposições são invariáveis (e, assim, não passam para o plural).

 

B. Depois da preposição ATÉ.

Antes dos pronomes possessivos, o artigo é facultativo. Após a preposição até, a preposição A é facultativa. Sendo assim, a crase também o será. Vejamos:

 

Fui até o clube.

            Fui até ao clube.

            Fui até a faculdade.

            Fui até à faculdade.

 

Todos os exemplos acima estão corretos e, pelo que se vê por eles, o artigo sempre aparece depois de até. O que pode ou não ser usado, a critério de quem escreve, é a preposição. Caso usemos a preposição A, depois de até, antes do artigo feminino A, teremos que utilizar o acento grave para marcar a ocorrência da crase.

 

C. Antes de nomes próprios femininos sem sobrenome e sem indicação de intimidade.

Ambas as frases abaixo estão corretas:

 

Enviou o recado a Marta.

Enviou o recado à Marta.

 

ATENÇÃO: a crase somente é facultativa antes de nomes próprios femininos se eles não vierem acompanhados de sobrenome ou de determinante que indique intimidade. Isso acontece porque o uso do artigo antes de nome próprio, seja de que gênero for, indica intimidade. O sobrenome, por sua vez, indica distanciamento.  Logo, concluímos que:

  • Se usarmos o nome próprio feminino sem sobrenome ou sem determinante que indique intimidade, não indicaremos proximidade ou distanciamento. Neste caso, poderemos escolher por usar ou não o artigo. Se usarmos, haverá crase (desde que haja algum termo que exija a preposição A). Se não usarmos, não haverá crase.
  • Se usarmos o sobrenome, indicaremos distanciamento, formalidade e, por isso, não poderemos usar o artigo antes. Seria incoerente indicarmos, ao mesmo tempo, num mesmo enunciado, proximidade (com o artigo) e distanciamento (com o sobrenome).
    • Enviou o recado a Marta Suplicy.
    • Se usarmos um determinantes que indique intimidade, teremos que usar o artigo, já que a proximidade entre quem escreve e a pessoa sobre a quel se escreve ficou evidenciada.
      • Enviou o recado à Marta, minha namorada.

 

Casos especiais

 

A. Antes das palavras terra, casa e distância.

A.1. Se tais palavras aparecerem sem determinantes, não se pode usar crase.

 

Acabei por retornar a casa, ainda que muitos anos depois.

            O segmento de educação a distância vem crescendo ano a ano.

            O marinheiro voltou a terra e reencontrou sua família.

 

A.2. Se tais palavras vierem determinadas, deve-se usar crase, desde que seja exigida a preposição A.

 

            Acabei por retornar à casa de meus pais, ainda que muitos anos depois.

            O marinheiro retornou à terra natal e reencontrou sua família.

            O atirador de elite observava o ladrão de bancos à distância de 500 metros.

            Depois do recesso, os parlamentares regressaram à Casa para votar.

            O momento que um astronauta mais espera é a hora de voltar à Terra.

 

B. Antes de topônimos (nomes de lugares)

            Os topônimos podem ser:

  • Masculinos: precedidos do artigo O. Nunca são precedidos de crase.
    • O Ceará.
    • Femininos: precedidos do artigo A. Sempre que há a exigência da preposição A, são precedidos por crase.
      • A Itália.
      • Neutros:
        • Se não forem especificados, não aceitam artigo A e não levam crase.
          • São Paulo.
  • Se forem especificados, aceitam o artigo A e levam crase.
    • A São Paulo da garoa.

 

Para saber se um topônimo é feminino ou neutro, use o troque de dizer: “vou a, volto de” (neutro) e “vou à, volto da” (feminino). Vejamos:

 

Regressou à Inglaterra dois anos depois. (quem vai À Inglaterra, volta DA Inglaterra – feminino – crase obrigatória).

Iria a Belo Horizonte se o dinheiro desse. (quem vai A Belo Horizonte, volta DE Belo Horizonte – neutro sem especificador – crase proibida).

Iria à Belo Horizonte das memórias de sua infância. (neutro especificado – crase obrigatória).

 

Casos obrigatórios

 

A. Casos obrigatórios que se justificam pela fusão da preposição A com outra vogal igual.

A.1. Fusão da preposição A com o artigo A ou AS.

 

Era contrário à medida tomada pela direção da empresa.

            Dirigiu-se às pessoas presentes com muita educação.

 

A.2. Fusão da preposição A com a letra A inicial de aquilo, aquele(s) e aquela(s).

 

            Não faça alusão àqueles tempos, pois sabe que isso incomoda seu pai.

            Visava àquela promoção desde o primeiro dia de trabalho.

            Não me referi àquilo que você ontem.

 

A.3. Fusão da preposição A com o pronome demonstrativo A.

 

Entregue as flores à de vermelho, por favor. (=àquela de vermelho).

Contou o segredo à que era mais fofoqueira. (=àquela que era mais fofoqueira).

 

Fique esperto!

            Como se vê pelos exemplos acima, a letra A antes de QUE e DE receberá acento grave sempre que tiver valor de aquela, desde que a preposição A seja exigida na frase.

 

B. Casos obrigatórios que se justificam pela tradição linguística.

B.1. Indicação de horas.

 

            O filme começa às 19h.

            Sairei às três.

 

Ao indicar um intervalo, combine sempre a preposição DE com a preposição A (sem crase) e a contração DA(S) com a contração À(S), que resulta da fusão de A + A.

 

A aula vai de 13h a 17h.

            A aula vai das 13h às 17h.

            A festa foi de uma da manhã a uma da tarde do dia seguinte.

            A festa foi da uma da manhã à uma da tarde do dia seguinte.

 

B.2. Em locuções adverbiais, conjuntivas e prepositivas femininas.

São exemplos de tais locuções: à espera, à frente, à direita, às vezes, à medida que, à proporção que, à noite, à tarde, à toa…

 

Eu aprendo à medida que estudo.

            Muitas pessoas, em vez de lutarem por seus objetivos, vivem à espera de milagres.

            Vire à direita, por favor.

 

ATENÇÃO: se alguma das expressões acima for utilizada de modo a não corresponderem a uma locução adverbial, prepositiva ou conjuntiva, ela não necessariamente apresentará crase. Vejamos:

            À noite, passa rapidamente. (“à noite” é um adjunto adverbial. Logo, há crase, pois trata-se de uma locução adverbial feminina. A frase quer dizer que algo ou alguém [3a do singular] passa depressa à noite.)

            A noite passa rapidamente. (“a noite” é o sujeito, e núcleo do sujeito nunca pode apresentar crase. A frase quer dizer que a noite não demora a passar, que o dia chega logo.)

 

B.3. Na expressão à moda de, ainda que antes de palavras masculinas e mesmo que moda de venha subentendido.

 

Ele canta à moda de Frank Sinatra.

            Ele canta à Frank Sinatra.

            Esse novo talento faz filmes à George Lucas.

 

Observações finais

 

A. Não caia na pegadinha dos verbos transitivos diretos e indiretos (VTDI). Sempre que um verbo for VTDI, ele terá que ter um OD e um OI, não sendo permitido que ele apresente dois OD ou dois OI. Vejamos:

 

Informaram a família sobre o mau comportamento do menino. (frase correta. “A família” é o OD, “sobre o mau comportamento…” é o OI, pois vem regido da preposição “sobre”).

 

Informaram à família o mau comportamento do menino. (frase correta. Dessa vez os objetos trocaram de lugar, e “à família” [agora OI] veio regido da preposição A enquanto “o mau comportamento…” assumiu o papel de OD).

 

Informaram à  família sobre o mau comportamento do menino. (frase incorreta. O verbo apresenta dois objetos indiretos e nenhum direto. Uma das preposições [A ou SOBRE] tem de ser eliminada para que o problema seja sanado. Logo, apesar de não haver problema algum em usar crase no trecho “informaram à família”, o restante da oração deve também ser analisado a fim de se evitar uma conclusão precipitada sobre a correção da frase).

 

B. Crase e pronomes relativos QUE e A QUAL/AS QUAIS.

Sabemos que, muitas vezes, o pronome relativo vem antecedido de preposição. Isso acontece quando o termo posterior a ele o exige. O que às vezes passa despercebido é que, se trocarmos o pronome QUE por A QUAL ou AS QUAIS e ele estiver precedido da precedido da preposição A, essa troca fará com que ocorra crase. Isso acontece porque, diferentemente do QUE, A QUAL e AS QUAIS vêm com o artigo A “de fábrica”.

 

A pessoa a que me referi chegou. ( O verbo referir pede a preposição A, que tem que ser colocada antes do pronome relativo QUE).

A pessoa à qual me referi chegou. (Aqui ocorre o mesmo, mas a preposição A é colocada antes do pronome A QUAL. Logo, A + A QUAL = À QUAL).

As pessoas às quais me referi chegaram. (A + AS QUAIS = ÀS QUAIS).

 

C. Lembre-se do paralelismo sintático.

 

Veja a frase abaixo:

 

Prefiro Português à Matemática.

 

            Essa frase está incorreta porque não respeitou o paralelismo sintático, ou seja, não foi coerente do ponto de vista estrutural. O verbo preferir exige a preposição A, pois é utilizado assim: preferir uma coisa A outra coisa.

Se existe um sinal indicativo de crase antes de Matemática é porque, além da preposição exigida pelo verbo, está lá, também, um artigo definido (A), que é admitido pelo nome.

Ora, se usamos um artigo antes de Matemática, temos que usar um também antes de Português. Só assim respeitaremos o paralelismo sintático da frase. Estariam corretas as duas opções abaixo (com artigo antes dos dois ou sem artigo antes dos dois):

 

Prefiro o Português à Matemática.

            Prefiro Português a Matemática. (a ausência de artigo antes de Matemática acarreta a ausência de crase).

            


Uma resposta para “Crase

  1. Alessandra disse:

    Adorei as explicações!!!

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