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Recursos – prova de Assistente em Administração – UFMG 2012

Olá, pessoas!

Respondendo aos apelos de alguns alunos, vou postar aqui a análise de algumas questões da prova do concurso da UFMG, que aconteceu no último fim de semana. Como estou um pouco corrido, vou postando ao longo do dia. Não é para fazer mistério, não! É correria, mesmo! rs

Seguem o texto e as observações quanto às questões:

Prova de amor

Muitas vezes, coisas óbvias deixam de ser óbvias quando não são mais lembradas. É o que está acontecendo com a questão da Aids.

No início da epidemia do vírus, há 30 anos, as campanhas sobre a prevenção da doença traziam mensagens de medo, fazendo uma ligação entre sexualidade e morte. Elas mais desinformavam que educavam. A partir daí, as campanhas passaram a combater a ideia do medo de forma educativa.

Em 1985, uma novidade: a Aids já não era mais relacionada aos grupos de risco e as campanhas apresentavam a síndrome como doença complexa e sem cura. Não era uma mensagem de terror, mas uma campanha acirrada com informações sobre prevenção e o perigo da doença.

Com a diminuição no número de infectados nos últimos anos, as campanhas se tornaram menos frequentes e adotaram um tom mais brando. Por isso, diferentemente do que ocorria no início da epidemia, a geração que hoje tem menos de 30 anos pode até ter ouvido falar, mas não tem o susto das gerações anteriores. A geração de hoje não viveu a luta contra a Aids.

Dados divulgados nesta semana mostram que houve um aumento no número de homens gays, jovens, com HIV. A campanha lançada pelo governo federal tem como principal alvo esse grupo, que tem 13 vezes mais chances de estar infectado pelo HIV do que jovens em geral. É preciso saber com clareza os motivos pelos quais eles não utilizam preservativo, o que levou ao aumento da presença do vírus.

Provavelmente esse comportamento de risco é facilitado pela utilização do mecanismo de negação, ajudado pela falta de campanhas e pela banalização da doença, que hoje é crônica. Dos jovens entre 15 e 24 anos, 95% sabem que a melhor forma de prevenir o HIV é usando camisinha. Entretanto, no ano passado, só no Estado de São Paulo, a Aids matou quase nove pessoas por dia.

Não podemos correr o perigo de voltar a estigmatizar os homossexuais como grupo de risco. Uma pesquisa feita com paulistanos (“Saúde”, 1o/12) mostrou que 20% da população acredita que homossexuais e prostitutas são os únicos com risco de contrair o vírus HIV. As pessoas acham que não são vulneráveis.

Uma campanha eficaz é aquela que diz que não existe milagre fora da prevenção. Como educadora que fui nessa área, sei que, sem educação sexual nas escolas, a propaganda só é parcialmente efetiva.

A jovem que na época do “TV Mulher”, 30 anos atrás, ficava atordoada com a “prova de amor” exigida enfrenta hoje o mesmo problema. A diferença é que antes a prova era a virgindade, hoje é o sexo sem camisinha.

O combate à Aids tem que ser em todos os campos, de todas as formas, se quisermos realmente acabar com essa doença.

SUPLICY, Marta. Folha de São Paulo, 03 dez. 2012, p. 2.

 

 

2) Gabarito oficial preliminar: letra B

 

QUESTÃO 02

A causa do aumento do número de infectados nos últimos tempos em nosso país advém

A)  da crença de que o vírus da Aids somente atinge a população masculina homossexual.

B)  da ignorância de que o vírus da Aids é evitável quando se usa camisinha.

C)  da incerteza originada em relação aos tratamentos médicos das pessoas infectadas pela Aids.

D)  da percepção da infecção pelo vírus da Aids como uma condição crônica.

Letra B (gabarito preliminar oficial): considerando as informações trazidas pelo texto, não se pode admitir que o gabarito da questão seja a letra B. Tal alternativa afirma que a causa de aumento do número de infectados pelo HIV nos últimos tempos advém “da ignorância de que o vírus da Aids é evitável quando se usa a camisinha”. O próprio texto, todavia, diz o contrário:

“Dos jovens entre 15 e 24 anos, 95% sabem que a melhor forma de prevenir o HIV é usando camisinha.” (§ 6o)

É certo que essa informação restringe-se ao grupo dos jovens entre 15 e 24 anos. Não há, porém, no texto, nenhuma outra passagem que trate da questão de conhecer ou não a possibilidade de prevenir a infecção pelo vírus por meio do uso da camisinha.

Letra A: não se pode afirmar, com base no texto, que exista uma crença de que o HIV somente atinja a população homossexual masculina. O que o texto menciona é que 20% (apenas 1/5 do total) da população paulistana (não há dados de âmbito nacional, e o enunciado questiona sobre o aumento da infecção “em nosso país”) acredita que somente homossexuais (a informação do texto não se restringe aos masculinos) e prostitutas).

Letra C: também não pode servir de resposta à questão. O texto sequer aborda os resultados dos tratamentos.

Letra D (única alternativa viável): conforme se depreende do 6o parágrafo do texto, o comportamento de risco consistente em fazer sexo sem preservativo, que aumenta as taxas de infecção, pode advir da percepção de que a Aids é uma doença crônica. Vejamos:

Provavelmente esse comportamento de risco é facilitado pela utilização do mecanismo de negação, ajudado pela falta de campanhas e pela banalização da doença, que hoje é crônica. Dos jovens entre 15 e 24 anos, 95% sabem que a melhor forma de prevenir o HIV é usando camisinha. Entretanto, no ano passado, só no Estado de São Paulo, a Aids matou quase nove pessoas por dia.

QUESTÃO 03

As seguintes afirmativas podem ser confirmadas por meio da leitura do texto, EXCETO:

A)  A estigmatização dos homossexuais masculinos como grupo de risco na contaminação do vírus da Aids constituiu-se como uma consequência causada pela disseminação de informações incorretas.

B)  Com a divulgação dos primeiros casos de infecção pelo vírus da Aids, as mensagens sobre esse vírus enfatizavam a informação, com a finalidade de superar o medo da contaminação.

C)  As campanhas de prevenção têm se mostrado profícuas ao longo dos anos no tocante à contenção da contaminação pelo vírus da Aids, notadamente na última década.

D)  As mensagens sobre a contaminação com o vírus da Aids, há 30 anos, ao invés de trazerem informações esclarecedoras sobre as formas de prevenção, criavam visão distorcida da realidade.

 

Gabarito oficial preliminar: letra C

Letra A: de certo modo, pode-se dizer que, conforme o texto, homossexuais (não somente masculinos, assim como prostitutas) são considerados, por alguns (20% da população paulistana) como os únicos susceptíveis à infecção pelo HIV. Todavia, o texto não trata diretamente de informações incorretas que teriam sido responsáveis pela estigmatização dos homossexuais masculinos. Essta alternativa pode ser confirmada mais pelo conhecimento “de mundo” do candidato do que pela leitura do texto. Aceitá-la como de acordo com o texto é uma interpretação bem forçada, ainda que ela possa ser correspondente à realidade. Não me parece adequado dizer que o que se afirma nesta alternativa esteja de acordo com o texto.

Letra B: impossível confirmar o conteúdo da alternativa B por meio da leitura do texto. O que Marta Suplicy diz, logo no 2o parágrafo, é justamente o contrário disso: as mensagens eram de medo e geravam desinformação. Vejamos:

No início da epidemia do vírus, há 30 anos, as campanhas sobre a prevenção da doença traziam mensagens de medo, fazendo uma ligação entre sexualidade e morte. Elas mais desinformavam que educavam. A partir daí, as campanhas passaram a combater a ideia do medo de forma educativa.

Letra C: segundo o Houaiss, “profícuo” significa “que dá proveito; de que resulta o que se esperava; frutífero, lucrativo, útil, proficiente”.

De acordo com o 4o parágrafo do texto, os últimos anos viram uma queda no número de infectados. Sendo assim, pode-se considerar que as campanhas fora, sim, profícuas.

O único aumento no número de infecções, conforme o texto, deu-se somente dentro do grupo dos jovens homossexuais masculinos. Logo, apesar de ter havido aumento em um grupo específico, não se pode dizer que, no geral, as contaminações aumentaram. Pelo contrário, o texto corrobora a conclusão contrária, como se vê pelo 4o parágrafo:

Com a diminuição no número de infectados nos últimos anos, as campanhas se tornaram menos frequentes e adotaram um tom mais brando. Por isso, diferentemente do que ocorria no início da epidemia, a geração que hoje tem menos de 30 anos pode até ter ouvido falar, mas não tem o susto das gerações anteriores. A geração de hoje não viveu a luta contra a Aids.

 

Letra D: não encontra suporte no texto. Realmente, as campanhas não traziam informação útil. Em vez disso, criavam medo. Todavia, “criar medo” não é sinônimo de “criar visão distorcida da realidade”.  Distorcer é alterar, e optar por amedrontar a população no lugar de informá-la não significa uma alteração, mas sim a opção por uma dentre possíveis abordagens.

Na minha opinião, então, a alternativa que a banca examinadora considera a única que não encontra apoio no texto é, justamente, o contrário: aquela que pode ser confirmada pelo texto.

 

QUESTÃO 13

A UFMG necessita enviar uma correspondência ao Governador do Estado do Piauí, No endereçamento, qual seria o pronome de tratamento adequado para esta autoridade?

A)  Ilustríssimo Senhor.

B)  Vossa Excelência.

C)  Excelentíssimo Senhor.

D)  Vossa Senhoria.

Gabarito preliminar oficial: letra C

Conforme o Manual de Redação da Presidência da República:

  • O pronome de tratamento adequado para se dirigir a Governador de Estado é Vossa Excelência;
  • Sendo assim, o pronome de tratamento adequado para se falar a alguém de um Governador de Estado é Sua Excelência;
  • Excelentíssimo Senhor é vocativo adequado para se dirigir aos Chefes de Poder (Presidente da República, Presidente do Congresso Nacional e Presidente do Senado, Presidentes de Tribunais Superiores…);
  • O vocativo reservado às demais autoridades é Senhor. Inclusive, o próprio Manual de Redação da Presidência da República dá, como exemplo de aplicação, “Senhor Governador”;
  • Ainda segundo o referido Manual, no envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência (entre as quais está o Governador de Estado), será feito assim: A Sua Excelência o Senhor.

A conclusão a que chegamos é a seguinte: a questão 13 não tem resposta.

Se precisarem de mais análises, mandem as perguntas nos comentários. Se houver tempo, responderei.

Boa sorte a todos!

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